sexta-feira, 23 de março de 2012

Capacete sujo pode causar doenças respiratória e de pele!

 

Transmissão de piolho, gripe e catapora são alguns dos problemas.
Usuários de mototáxi devem ficar atentos quanto às condições de higiene.

Usuários do serviço de mototáxi devem ficar atentos quanto às condições dos capacetes. Segundo especialistas da área da saúde, a falta de higiene pode causar problemas respiratórios e na pele. O uso opcional da touca descartável que evitaria o contato direto com a cabeça ainda não é uma exigência em Araraquara (SP), onde há cerca de 500 mototaxistas, a maioria trabalhando clandestinamente.
Equipamento de segurança obrigatório para quem anda de moto, o capacete em más condições de uso pode causar doenças respiratórias e da pele, como micoses e caspas. “Se você usar um que esteja muito suado, você pode ter algum processo infeccioso e até pegar piolho”, alerta Alessandro Mondelli, microbiologista da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Foi o que aconteceu com a mãe da esteticista Amanda Carla Pingueiro, de 22 anos. "Depois que ela teve piolho, decidi comprar um capacete porque fiquei com medo de pegar também. Já andei muito de mototáxi e a maioria dos capacetes cheiram mau devido ao suor misturado com os diversos odores de perfumes de produtos de limpeza", relata.
Outro que reclama do incômodo é o segurança Márcio Oliveira, de 28 anos. Ele diz que utiliza o meio de transporte de vez em quando, justamente porque já conhece bem as condições. "Acho importantíssimo o uso do capacete para a segurança, mas o fato que não me agradou foi o mau cheiro de cigarro", diz. "Realmente não dá paga aguentar, é chato demais", concorda o estudante Alex Ferreira, de 17 anos.
O especialista da Unesp explica que fungos, bactérias e outros microorganismos têm maior sobrevida e predisposição de proliferação em ambientes escuros e úmidos. Devido a um certo calor provocado pelo corpo, o forro do capacete torna-se abrigo ideal para esses germes.
O infectologista Paulo Olzon Monteiro da Silva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) afirma que o ideal seria que cada pessoa tivesse o seu próprio capacete para evitar riscos. Além da eventual transmissão de micose, diz, há riscos de se contrair gripe, resfriado, catapora, meningite, entre outros males.
“Se a pessoa não limpa bem o capacete e deixa alguma secreção, quem vai usar depois pode entrar em contato com a substância e vir a contrair essas doenças respiratórias”, explica o infectologista.

Limpeza e manutenção
Higienizar o capacete diariamente é uma maneira de minimizar a ação de fungos e bactérias, mas a prática requer tempo e disciplina, segundo o microbiologista Alessandro Mondelli.
Mototaxista há cinco anos, Fabiano Campezan, de 41 anos, diz que a limpeza do acessório é uma das suas preocupações diárias. “Chego em casa no fim do dia, pego buchinha com álcool e limpo o capacete do passageiro e o meu. Coloco para secar e deixo a noite inteira tomando ar. Desta maneira evito mau cheiro, até hoje ninguém reclamou”, conta.
O goiano Gerson Felix, de 54 anos, trabalha como mototáxi em Araraquara desde 2005. Para higienizar o equipamento de segurança, utiliza um produto especial comprado na farmácia. “Passo duas vezes por semana e deixo no sol por 20 minutos”, explica o motociclista. Ele afirma já ter oferecido a touca descartável aos clientes, mas muitos recusam.
Apesar dos modos distintos de limpeza, o ideal é deixar o capacete no sol diariamente por até três horas, orienta o microbiologista. “Utilizar um pano com álcool a 70% no forro interno mata as bactérias e elimina a maioria dos patógenos. Água sanitária também ajuda, mas o problema é o cheiro. Essa é uma possibilidade para eliminar principalmente os vírus, que têm um tempo de vida diferenciado”, ressalta.
Touca descartável
O uso opcional da touca descartável sob o capacete pode se tornar uma exigência em Araraquara. A administração municipal promete discutir, entre outras necessidades, a obrigatoriedade do acessório.
Se virar lei, os mototaxistas serão obrigados a ter o produto disponível para os usuários. Eles ainda deverão informar que o fornecimento da touca é uma questão de higiene e de prevenção contra qualquer tipo de doença capilar.
“Há profissionais que já ofereceram o acessório e disseram ter ficado um pouco constrangidos, porque tem passageiro que se ofende. Acha que o motociclista está querendo proteger o capacete, quando na verdade é o contrário”, relata Adriano Parreira, de 38 anos, um dos instrutores do curso de qualificação para a categoria que será ministrado no Sest/Senat em Araraquara nos próximos dias.
Cerca de 200 mototaxistas já estão matriculados. Divididos em oito turmas, eles passarão por um treinamento de 30 horas para se adequarem à lei federal, que passará a vigorar no mês de agosto na cidade. Quem não fizer o curso, poderá ser impedido de exercer legalmente a profissão, segundo Denise Magrini, gerente da Secretaria de Transportes.
 



Fabio Rodrigues